Entrevista - Van Halen - David Lee Roth é maluco!


Entrevista concedida à Revista Rock Brigade, em Novembro de 1996 - (por Daniel Oliveira)


              Os irmãos Eddie e Alex Van Halen
  

O destino foi grandioso demais... Robert Plant viajando pra Ásia com Jimmy Page, Gene Simmons apertando a mão de Ace Frehley e John Lydon anarquizando o mundo com Steve Jones. Obviamente, só faltava David Lee Roth pulando no palco com Eddie Van Halen novamente !

Nos últimos meses, esta foi a grande esperança dos velhos fãs do Van Halen. Com a saída do vocalista Sammy Hagar, Eddie Van Halen (guitarra), Michael Anthony (baixo) e Alex Van Halen (bateria) cogitaram o que praticamente parecia impossível: trazer de volta David Lee Roth, o vocalista original da banda. Desde que os boatos da reunião surgiram, em meados de junho, o quarteto entrou nas manchetes dos jornais americanos tanto quanto a reunião do Kiss e o novo álbum do Metallica. As manchetes eram unânimes: "Sammy está fora ! David está de volta !" Na verdade, Sammy conquistou seu respeito musical ao longo dos anos, mas jamais conseguiu superar o fanfarrão David Lee Roth pulando enlouquecido em cima do palco e cantando obras- primas do rock pesado, como Ain’t Talkin’ Bout Love, Panama e Unchained.

Porém, Eddie, Michael e Alex convidaram David apenas para gravar duas músicas, Me Wise Magic e Can’t Get This Stuff No More, incluídas como bônus na coletânea de hits Van Halen Best Of - Volume I. Naturalmente, o furor da imprensa e dos fãs foi absolutamente incontrolável, mas insuficiente para pressionar a estabilização da reunião. Após frustrações no estúdio (onde a banda não conseguiu se entender com David), brigas na festa de prêmios da MTV (em que a formação original fez uma aparição surpresa) e uma carta de David enviada à imprensa, em que baixa o pau na tão sonhada reunião, uma coisa agora é certa: o Van Halen original não voltará ! E para explicar os podres desta "reunião", adiantar o novo vocalista e falar positivamente da coletânea de hits, Eddie e Alex atenderam a ROCK BRIGADE pessoalmente em duas entrevistas separadas.                                                                                              


EDDIE VAN HALEN                                                                                                                                                     

2 de outubro. Exatamente no dia de nossa entrevista, Eddie estava revoltado e decepcionado em sua casa, localizada num morro milionário ao norte de Los Angeles. Ele havia acabado de receber a carta de David Lee Roth enviada à imprensa, onde o vocalista lhe acusava de ter tramado a tal reunião. Sentado na sala de visitas de seu estúdio, 5150, ele demonstrou satisfação em conversar conosco, mas não pôde esconder sua expressão facial séria e amarga.            

RB - Se a maioria dos fãs já conhecem bem as músicas do Van Halen, por que lançar uma coletânea de hits?

Eddie - Talvez você esteja falando em termos de Brasil, mas há um mundo imenso aí fora. Por exemplo, só excursionamos duas vezes na Europa com Sammy, por isso, os europeus não conhecem bem o Van Halen mais recente. Também há fãs de 13 ou 14 anos que nem sabem que lançamos 10 álbuns. Assim, elaboramos este álbum para eles. Ao invés de comprar cada álbum, o que custaria muito dinheiro, eles podem ter uma história cronológica da banda com duas músicas de cada álbum num único CD.                                                                                                          

RB - Então o CD é direcionado primordialmente aos novos fãs?

Eddie - Sim, mas não se esqueça que nossos seis primeiros álbuns não foram lançados em CD [na época em que saíram]. Como estavam anteriormente em vinil, nós remasterizamos as músicas para que soassem corretamente. Não as remixamos, ainda têm as mesmas mixagens clássicas. Mas elas soam melhor pela remasterização.                          

RB - Bandas normalmente lançam uma coletânea para fechar um capítulo de carreira. É o que está acontecendo ao Van Halen com Van Halen Best Of - Volume I?

Eddie - Não planejamos assim, mas o engraçado é que o álbum fechou dois capítulos: Sammy e David. Sammy saiu da banda e David nunca retornou, apenas fizemos duas músicas com ele. Eu mesmo disse que jamais lançaria uma coletânea de hits. Para quê? Mas Valerie, minha esposa, que sempre está na Internet, descobriu que muitos fãs não sabem que temos 10 álbuns. Então, por que não lançar uma coletânea para lhes dar pelo menos um gostinho de cada álbum? O mais engraçado é que Sammy foi totalmente contra a idéia, mas já lançou duas coletâneas em sua carreira solo [risos]. Atualmente, eu acredito que, enquanto nossos álbuns forem bons, podemos lançar quantas coletâneas desejarmos. Qual é a diferença? Talvez seja pelo mesmo motivo de sempre: bandas as lançam quando estão acabadas ou quando as gravadoras têm o direito contratual para tal. Mas a Warner [gravadora da banda] não nos forçou a lançá-la. Foi minha idéia fazer uma história cronológica da banda para os fãs mais jovens e pessoas que não nos conhecem. E o próximo álbum de estúdio está do caralho, já compus músicas para três deles !                                                                          

RB - Por que afinal Sammy saiu da banda?

Eddie - Porque ele é bem mais velho que o resto da banda. Ele tem 49 ou 50 anos - nem sei ao certo -, e eu tenho 41, assim há uma diferença de oito ou nove anos. Eu não sei o que passa em sua mente, mas ele quis voltar a ser um artista solo. Ele saiu porque se sentiu frustrado na banda ! Eu até lhe ofereci ajuda para compor e completar suas músicas, mas você precisa ser aberto numa banda. É como um time de futebol - você trabalha junto para vencer e completar algo corretamente. Nosso produtores, Bruce Fairbairn e Glen Ballard, nos dão sugestões, mas Sammy não ouvia nenhum dos dois. Eu não quero comparar ambos produtores, mas, musicalmente eu e Glen nos relacionamos tão bem que podemos terminar três músicas num dia. Porém, Sammy cuspiu na cara dele. Ele apenas disse: "eu mudarei as músicas para o que acho melhor". E se mandou.                                                                                                      

RB - Como você analisa esta situação, já que levou muitos anos para ele conquistar a maioria dos fãs do Van Halen?

Eddie - Leva tempo para que o público se acostume a um novo vocalista, mas há fãs por aí que odeiam Sammy e idolatram David. Por outro lado, há fãs que idolatram Sammy e odeiam David. Então não dá pra satisfazer todo mundo. Tudo que você pode fazer é compor e lançar músicas do coração. E se ela tocar outras pessoas, sua missão estará cumprida. Você não pode compor tentando satisfazer o público; você tem que se satisfazer primeiro. Se eu gosto de uma música, sairei do estúdio para lançá-la. E se as pessoas gostarem, ótimo ! Se não gostarem, tudo bem. É simples. Se você fica pensando "talvez nossos fãs gostem disso", você não fará o que realmente deseja. E o que acontecerá se não gostarem do que você acha que eles gostam? Então você estará duplamente fodido, porque nem você e nem eles gostam da música !!! A música tem que sair do coração, caso contrário é planejada e irreal. É por isso que o Van Halen está na ativa há quase 20 anos. Ano que vem completaremos 20 anos desde que gravamos nosso primeiro álbum ! Sobrevivemos através do punk, rap, grunge e disco music porque não seguimos modas, fazemos nossa música. Eu sou um músico, não uma estrela do rock. O público é que me transforma numa estrela do rock. Eu sou apenas uma pessoa normal que cria música, é tudo que eu sei fazer. Eu não consigo copiar outras pessoas e seguir modas. No passado, costumávamos tocar hits de outras bandas nos clubes. Eu fiz de tudo para imitar as músicas de seus álbuns, mas foi impossível. Isto foi uma benção, pois hoje só consigo tocar o que componho.                                

RB - O legal é que você ainda explora amplamente sua técnica...

Eddie - O que Deus me dá é o que sai de mim. Eu realmente não posso dizer que já compus algo, tudo foi dado a mim. Eu fui escolhido para isto, como um veículo. Logicamente, eu tenho que me manter em forma para executar o que me é passado. E o homem lá no céu tem me dado muito recentemente, pois até parei de beber. Isto parece uma cerveja [mostra a lata em suas mãos], mas não é alcoólico.                                                                                                    

RB - Depois que Sammy saiu, como vocês reencontraram David para gravas as duas músicas da coletânea?

Eddie - David me ligou. Eu estava jogando golfe com um amigo, Rudy Laren, que ocasionalmente é meu roadie de guitarra, e que também trabalha com David. Ele me disse: "David pediu pra você ligar pra ele". Eu respondi: "O mesmo David de sempre... Ele quer que eu ligue pra ele ! Ele tem a porra do meu número ! Peça pra ele me ligar caso queira falar comigo". Então David me ligou, deixou dois recados e eu liguei de volta. Ele ficou chocado quando liguei, dizendo "É você mesmo?" Ele me disse que havia ligado para Scotty [Ross, gerente] da Warner, pois tinha recebido uma carta sobre o lançamento da coletânea de hits. Ele queria saber se a lançaríamos em um ou dois Cds. Acabamos nos desculpando pelas bostas que falamos uns dos outros ao longo dos anos, quando agíamos como crianças. Como estávamos no telefone por 45 minutos, eu notei que ele havia mudado. Por isso, começamos a reconstruir nossa amizade. Então, Sammy saiu da banda e eu tive essa idéia maluca de gravar duas músicas com David. Agora, após receber o release que ele enviou à imprensa, eu me pergunto se realmente devia ter feito isso.                                     

RB - Qual foi sua reação ao ler a carta aberto do David para a imprensa?

Eddie - Eu não sei, ele é maluco ! Porra, eu jamais esperava que isso acontecesse ! Nunca falamos que ele estava na banda. Nunca lhe demos a mínima ilusão sobre esta possibilidade. Se você ler nosso release, há uma parte que diz: "Estamos em estúdio gravando uma música para a coletânea, mas também procurando por um vocalista permanente."  

RB - Mas ele disse que a banda já havia encontrado um vocalista na época...

Eddie - Não, ainda não encontramos ninguém. Temos uma escolha número um, que é Gary Cherone [do Extreme], mas ele está sob contrato com outra gravadora. Ele só pode entrar na banda se sair deste contrato. Na época da gravação, eu toquei umas 20 músicas pro David, mas ele não conseguia se relacionar a nenhuma. Ele não confia em Ray, nosso empresário, acha que Alex lhe odeia e não tem respeito por Michael. Como é que essa porra dará certo? Eu nunca menti pra ele, nunca usamos ele para nada. Nós o trouxemos de Las Vegas e fizemos com que ele cantasse bem estas duas músicas. Eu e Glen devíamos ganhar um certificado dentário, pois foi como arrancar dentes para fazer ele cantar direito. Tivemos que transferir as músicas para um DAT de oito canais, mudá-las ritmicamente, prolongá-las e trazê-las de volta. Ele levou duas semanas e meia para gravar os vocais. Mas vamos lhe dar crédito, David é um guerreiro ! Ele ficou no estúdio, se esforçou, mas, num certo momento, já era como: "de novo, de novo, de novo". Eu não quero rebaixar o cara, mas eu estou muito puto hoje. O que machuca mais quando leio isso é que ele mesmo disse: "se este projeto terminar amanhã, pelo menos gravamos uma música e somos amigos". Mas isso foi a primeira coisa que saiu pela porra da janela. Quando ele fala merdas deste tipo, eu não fico puto ou entristecido - eu fico deprimido ! Eu não consigo entender, esta carta não faz sentido ! Ele cai em contradição, pois diz que só concordou em participar do MTV Awards porque lhe falamos que estava na banda. E então, durante o programa de Howard Stern [locutor americano de rádio], na manhã seguinte, ele diz: "eu não estou na banda, estou esperando pra ver o que rola". Nunca garantimos ao David que ele entraria na banda.                                                                                                                                                                     

RB - Com Gary ou não, você está com medo de reconquistar seus fãs com um novo vocalista?

Eddie - Não, pois não tem nada a ver com reconquista. Eu sou um músico e compositor. Se as pessoas gostam de nossas músicas, maravilha. Se não gostam, bem, eu gosto porque é minha vida. E não tem nada a ver com dinheiro. Se quiséssemos ganhar dinheiro, sairíamos em turnê com David tocando apenas músicas antigas. Você não imagina quantos promotores têm nos ligado dizendo: "Faça a turnê ! Daremos toda essa grana pra vocês !" Foda-se o dinheiro ! Não somos uma banda nostálgica, principalmente depois que eu parei de beber. Meu amigo, com as músicas que estou compondo agora, parece que estou começando ! Não retornarei com Dave. Eu quero olhar pra frente !                           


ALEX VAN HALEN                                                                                                                                                         

Logo após entrevistarmos Eddie, encontramos Alex dentro do estúdio onde o Van Halen gravou a maioria de seus álbuns. A mesa de som ao nosso lado, por exemplo, coordenou os canais de gravação de clássicos imortais como Jump, Panama, Hot For Teacher. Ao contrário de seu irmão, ele estava mais calmo e relaxado, mas sensível aos fatos recentes, relacionados ao falatório a respeito da "reunião" e da coletânea de hits do grupo, lançada recentemente.        

RB - Houve alguma nostalgia quando vocês planejaram lançar Van Halen Best Of - Volume I?

Alex - O álbum não demonstra tanta nostalgia quanto nosso progresso musical. Algumas músicas sempre passarão no teste do tempo. Ain’t Talkin’ Bout Love é tão relevante hoje como na época em que foi composta. Como exemplo, você ode lembrar a primeira vez que ouviu uma música. Quando você a ouve novamente, ela lhe traz uma lembrança, o que é algo fascinante. Foi difícil selecionar as músicas desta coletânea porque estávamos limitados a 74 minutos. Assim, a melhor solução foi juntar duas músicas de cada álbum e fazer uma cronologia. Mas também adicionamos duas músicas novas, porque não queremos que este álbum seja visto como um final. Queremos mostrar ao público que mais coisas virão.                                                                                                                                                     

RB - Comparando aos velhos tempos, como foi a atuação de David na gravação destas músicas?

Alex - Parecia que os 11 anos que não nos vimos nunca existiram. A situação me levou à época do álbum 1984, pois ele não mudou nem um pouco. Nos velhos tempos, quando Ted Templeman nos produzia, ele tentava tirar o máximo de David. Um dos talentos de um produtor é conhecer as qualidades e fraquezas de um artista, assim como explorar todas capacidades. Ted é muito bom com estas coisas. David gravava seus canais e Ted trabalhava com ele sozinho. Já nestas duas músicas, Eddie e Glen Ballard foram os que sentaram no estúdio para tirar o máximo de David. Ele não é o melhor vocalista do mundo, mas realmente tem talento. E para fazer esse talento funcionar numa música, ele precisa ser pressionado. Me Wise Magic foi gravada ao vivo, em quatro minutos. Nós a tocamos e colocamos numa fita. Depois, gravamos Can’t Get This Stuff No More.                                                                                                 

RB - Já que David não estará na banda, não seria injusto dar aos velhos fãs o gostinho dele cantando novamente?

Alex - Eu sei exatamente o que você quer dizer, mas tem coisas que estão fora de nosso controle. A química entre eu, David, Eddie e Michael não dá certo. Levou duas semanas para descobrirmos isto. Quando reencontramos David, ele estava humilde e arrependido pelas bostas que haviam parado na boca da imprensa. Então, fomos ao MTV Awards e ele agiu desrespeitosamente com o grupo Beck, que, inclusive, ganhou um dos prêmios. Estávamos lá pra entregar o prêmio, não pra ficar pulando ou fazer o que David achava necessário. Depois, fomos ao backstage dar algumas entrevistas e alguém fez uma pergunta bastante direta pro Eddie: "Quando vocês arrumarão um novo vocalista?" Como Eddie não é um comediante, ou enrolador, apenas respondeu: "Em meados de dezembro". Dave, então, foi à loucura e disse: "Eu não quero ouvir falar de vocalistas novos ! Sou eu e pronto !" Eddie olhou para ele e disse: "Olha aqui, seu merda. Jamais fale comigo assim !"... Ao invés de lhe socar a cara, Eddie foi bem educado. A partir daí, Eddie ficou num lado, David no outro e eu no meio.                                                                                                                     

RB - Durante a gravação das músicas, vocês deram a entender que ele ficaria na banda?

Alex - Não, nunca enganamos David. Sempre lhe dissemos que faríamos apenas uma música, o que acabou em duas. Apenas veríamos o que aconteceria. Mas ele me ligava toda manhã, perguntando: "Quando a turnê irá começar?" Ele ligou num dia e eu respondi: "David, não há turnê. Do que você está falando?" No dia seguinte, ele ligou e perguntou: "Alex, quando a turnê irá começar?" Então eu respondi: "David, eu te disse ontem. Não há turnê". E, no terceiro dia ele ligou e perguntou novamente: "Alex, quando a turnê começa?" Então eu comecei a pensar: "Talvez eu esteja falando com um ser interplanetário ou talvez não esteja entendendo a pergunta !" [risos] Eu lhe disse: "David, não tem turnê ! De que porra você tá falando?" Então, quando o lance da MTV rolou, ele provou ser totalmente incompatível. Ele não pode falar o que desejar, o mundo não gira ao seu redor. Nós lhe perguntamos se gostaria de cantar em duas músicas, mas nossas vidas não irão parar só porque fizemos isto.                                                        

RB - Qual as qualidades que deve ter o novo vocalista?

Alex - Estamos procurando pela mágica certa. Está 99,9 % confirmado que será Gary Cherone, pois é uma pessoa do caralho. Você não pode julgar como ele canta pelo que fez no passado. Quando você trabalha com pessoas diferentes, você atua de maneira diferente. Quando você ouvi-lo cantar nossas músicas, verá que está inacreditável !                   

RB - Junto com os vocais, como o estilo da banda mudará no próximo álbum?

Alex - É uma pergunta difícil porque um álbum deve refletir o que ocorre ao seu redor. Ao mesmo tempo, ele pode retirar você da vida do dia-a-dia e ser viajante, como algo dos Beatles, cujas letras não significavam quase nada. Agora temos material musical para uns três álbuns. Apenas temos que nos sentar e discutir o direcionamento do próximo. Não queremos ser sérios ao ponto de nos tornarmos um U2 ou coisa parecida. Mas, ao mesmo tempo, não queremos soar como 1984. Nós quatro sentiremos a coisa certa em relação a isso. É algo que não podemos descrever. É como tentar descobrir por que você se atrai por uma mulher e não por outra.                                                             

RB - O fato da coletânea se chamar Van Halen Best Of - Volume I significa que a gravadora lançará um segundo volume?

Alex - [rindo] Isso está além de nosso controle. Estamos apenas trabalhando num novo álbum de estúdio, esperando lançá-lo em janeiro ou fevereiro. Estamos cruzando os dedos. Eddie já compôs as músicas, elas só precisam ser organizadas. Então, devemos excursionar em maio, viajando pelo mundo inteiro. Sammy nunca quis tocar na América do Sul ou Europa, mas eu não sei o motivo. Mas, agora, iremos pra tudo que é lugar, incluindo o Brasil.                        

RB - O Van Halen está mudando de vocalista pela terceira vez. Você teme o futuro pela aceitação imprevisível dos fãs?

Alex - Não, porque eu, Eddie e Michael sabemos que viemos das ruas. Não nascemos ricos, não éramos nada além de membros da classe trabalhadora. Já faz 20 anos que vou à loja de um chinês e ele ainda não me dá crédito. Se me falta 20 centavos, ele diz: "Deixe aí, você não pode comprar." Para ele, não faz nenhuma diferença o fato de vendermos 70 milhões de álbuns. O negócio é entre nós dois. Não estamos com medo do futuro porque não é uma competição ou algo financeiro.                                                                                                                                    


A CARTA DA DISCÓRDIA                                                                                                                                               

2 de outubro, 1996                                                                                                                                                    


                                       David Lee Roth

David - Vocês provavelmente ouviram boatos que eu e o Van Halen não consumaremos nossa tão divulgada reunião. E como Edward, Alex ou Michael não a confirmaram ou negaram, eu gostaria de registar o seguinte: Eddie armou tudo. Não é segredo, e nem eu estou envergonhado de meu entusiasmo pela possibilidade da ressurreição do Van Halen original. "Duas músicas" foi o que eu tinha certeza quando eu e Edward nos reunimos três meses atrás para compô-las. Na época, a banda andou na ponta dos pés ao meu redor, salpicando sentimentos do tipo: "não há nada confirmado, Dave; não há nada a longo prazo, Dave; nós ainda estamos testando outros vocalistas, Dave". Eu tava na boa. Eu tava feliz. Eu tava curtindo o momento. Depois eu fiquei sabendo que nós quatro faríamos uma aparição surpresa no MTV Awards. Eu disse à Eddie na época que não seria uma boa idéia para a banda recém-nascida ir para New York, e que eu não queria implicar, com nossa presença, que estávamos "de volta", quando na verdade foi apenas algo feito às pressas em respeito aos velhos tempos. Bem, se não houvesse olhares por trás, se eu tivesse pedido algo escrito, isso não teria acontecido. Se eu tivesse dado atenção aos meus ocasionais problemas estomacais, talvez isto não tivesse acontecido. Mas eu vacilei. Como eu disse - foi entusiasmo. E eu adoro esses caras. Devo confiar neles? Esta pergunta nunca entrou em minha mente. Então, uma série de eventos semana passada fizeram eu descobrir, ao lado da imprensa, que a banda, junto com seu empresário, já havia contratado outro vocalista, possivelmente três meses antes. Eu me pergunto como ELE se sentiu naquela noite do MTV Awards. Isto certamente explica por que naquela noite Edward parecia tão inconfortável quanto um cara que assinou um contrato com o Diabo. Eu não posso pensar num motivo pelo qual Edward mentiu para mim sobre minha cogitação como vocalista quando ele já havia contratado outro, e então me deixar aparecer na MTV sob a impressão que havia uma grande probabilidade de eu e o Van Halen estarmos nos reunindo. Como eu disse, eu lhe falei claramente que eu não queria participar do lance da MTV como uma banda, a menos que realmente fôssemos uma banda. E então eu peço desculpas aos meus fãs, aos que me apoiaram e à MTV. Eu fui um participante inconsciente nesta decepção. Me deixa doente o fato de a "reunião" vista na MTV não ter sido nada mais do que uma jogada de publicidade. Se eu sou culpado por qualquer coisa, eu sou culpado por rejeição. Eu quis acreditar nisto tanto quanto as outras pessoas. As pessoas que me conhecem sabem que trapaça nunca foi meu estilo. (David Lee Roth).