Entrevista - Eddie Van Halen

Postado em 22.06.2010
 

Flashback: Eddie Van Halen em 1984  - (cedida por : Simonhead)

Entrevista condedida à Steven Rosen em 06.02.2008 - tradução: Deco
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Você poderá ouvir pessoas sussurando entre os descrentes da nação de guitarristas : “Cara, Eddie Van Halen está tocando teclados!”. Um sacrilégio? Talvez, mas na primeira vez em que você escutar esse cara, que é a lenda viva da guitarra, tocando seus acordes em um teclado Oberheim no novo som chamado “Jump” do novo álbum entitulado “1984’, será uma aceitação imediata. O som está novo e diferente, mas ainda definitivamente é todo Van Halen.

A música foi diretamente para o número 1 das paradas, mas só chegaria até lá gritando e chutando. Porque quando o cantor David Lee Roth ouviu o riff original de teclados que se tornaria o coração do som originalmente intitulado “Go Ahead and Jump”, ele ficou embirrado. Ele não queria de maneira nenhuma que seu parceiro de banda, aclamado como grande guitarrista, arriscasse uns acordes em um teclado. E quando ele descobriu que Eddie tinha construído seu próprio estúdio em casa, ele ficou catatônico. David sabia que perderia o poder e autonomia na banda. E gravar as músicas num estúdio nos jardins da casa de Eddie não era parte dos seus planos.

Mas Eddie foi inflexível. Ele estava ouvindo a música no seu luxuoso Home Studio chamado de “5150” e sabia que não estava sendo estúpido.

Alguém que estivesse pensando que o músico iria trocar as guitarras pelos teclados precisaria primeiro colocar a agulha do toca discos em qualquer faixa do disco 1984 antes de reclamar. 1984 explode com ótimos sons de guitarras jamais criados por Eddie até então. Vão desde a ultra-hiper “Hot for Teacher” até a caleidoscópica “Top Jimmy”. Isso sem falar no deslumbrante solo de guitarra em “Jump”.

Alguns meses depois de lançarem 1984, eu sentei com Eddie para falar sobre sua criação. Nós estávamos em seu estúdio. Como sentamos na sala de controle do estúdio, eu olhei em volta e vi suas guitarras Flying V e uma parede de Strats e Les Pauls modificadas, e várias outras guitarras em seus stands. E colocado ao lado do estúdio principal estava o teclado Oberheim, sozinho.


Você acha que o disco 1984 será bem recebido?
É difícil dizer.
Eu gosto de tudo o que já fizemos até hoje. Eu acho que o que é bom deve ser notado. Mas como alguém poderia prever, “Uau, este vai ser um álbum de platina”?

Você gastou mais tempo gravando 1984 do que qualquer outro álbum que vocês já gravaram. 

Sim, mas Fair Warning também levou tempo porque eu estava me casando e isto e aquilo. Mas 1984 se tornou longo por causa do U.S. Festival em que estávamos na linha de frente (festival de Rock em que o Van Halen seria a atração principal, ganhando a cifra recorde de $1.5 milhão de dólares por uma única apresentação).


Não importa o quanto demorou, obviamente a espera valeu a pena. 

Eu não queria estragar o processo do álbum.  Se tivéssemos que gravar o disco com determinados prazos para terminá-lo, isto poderia afetar o resultado. Então nós dissemos: “que se dane! Vamos entregar quando acharmos que está pronto”.

 

Ter o seu próprio studio lhe permitiu ter um pouco mais de flexibilidade em termos de trazer ao disco a utilização de diferentes guitarras?
Sim. Eu usei uma Gibson Flying V na “Hot for Teacher” e na “Drop Dead Legs”. Realmente, eu usei uma grande quantidade de guitarras diferentes para as gravações. Eu usei a Flying V porque eu precisava trocar rapidamente os captadores em uma parte da música para um som mais limpo na “Hot for Teacher”. Ao vivo, eu uso um Roland Echo Box com um controle de volume nele e eu piso no pedal para chavear o tipo de volume pois eu não consigo fazer isso rápido o suficiente no volume da guitarra. Este som foi de longe o tipo de “boogie song” melhor que eu já tinha feito. Ficou bacana e poderoso.                                                                  


 

Você deve ter se sentido estranho sobre incluir um som como “Jump” neste álbum. Os teclados e as partes estranhas durante o seu solo não são exatamente uma das marcas registradas do Van Halen.
Eu tive a idéia para “Jump” por volta da época do álbum Fair Warning (1981). Quando Michael, Alex e David ouviram pela primeira vez, eles não gostaram tanto assim. Ou eles provavelmente não estavam prontos para isso, ou achavam que eu não tinha nada a ver tocando teclados. Nós (Eddie e o engenheiro Donn Landee) colocamos a música no gravador e dissemos algo do tipo : “Aqui está amigos. Se vocês não gostam, escrevam algo melhor vocês mesmos”. Assim eles tiveram que aceitar.                                                                                  

                                                                                                                                                                               
Você por acaso ficou preocupado sobre qual seria a reação dos seus fãs vendo seu herói da guitarra tocando teclados?
Não, mas muitas pessoas devem ter se perguntado sobre isso. Ora, se eu for lá e tocar um saxophone, e tocar bem, qual é a diferença? Isso não quer dizer que eu nunca mais vou tocar guitarra.


Que tipo de teclados você usou na “Jump”? Esta não é realmente a primeira vez que você realmente colocou teclados em um álbum.
Sim, eu usei um desses teclados de brinquedo baratos, um Electro-Harmonix na “Sunday Afternoon in the Park”. Não tinha qualquer nota; você podia esfregar a mão por sobre toda a oitava e ir para algo como rrrrr (imita o som com a boca). Eu só liguei-o nos meus amplificadores Marshall. Lembro que era mais barato que um Casio e era feito de plástico, papelão e um pequeno sensor.

E no álbum Diver Down, eu lembro que David sempre quis regravar “Dancing in the Streets” e eu lembro dele ter me dado uma fita com ela. Eu disse: “Eu não posso fazer nada legal com isso”. Assim eu sugeri “Pretty Woman” porque me parecia algo mais próximo ao som do Van Halen. Eu estava trabalhando em algo no Minimoog e Ted Templeman (o produtor) sem querer ouviu um riff e disse: “Uau, nós podemos usar isso para gravar a Dancing in the Streets”. Assim, Ted e David ficaram felizes, mas eu não. Porque o riff que eu estava trabalhando foi usado para outra coisa que eu não procurava fazer.

E eu usei um piano elétrico Wurlitzer plugado nos meus amplificadores Marshall na “The Cradle Will Rock”. Dessa maneira posso dizer que usei sim alguns teclados antes da “Jump”.
Mas voltando na sua pergunta original, eu usei um Oberheim, OB-Xa. Eles pararam de fabricá-lo, assim agora eu uso um OB-8, que é um teclado bem melhor. Você pode basicamente ter os mesmos sons. Existe uma leve diferença entre os dois. Para os meus ouvidos, o OB-Xa parece ter um som mais rico, mas o OB-8 é muito mais confiável.


 

Foi difícil para chegar numa versão final de “Jump”? Foi como algo do Fleetwood Mac ou Steely Dan onde você percorre por dezenas de takes diferentes até chegar num concenso?

Eu acho  que fizemos “Jump” apenas uma vez. Na verdade a fita acabou bem no final da música. Foi por isso que tivemos cuidado para fazer o “fade out” no final dela. Quando Donn mixou-a, nós tivemos que cortar o final no momento certo, antes do final da fita. Quase todos os outros sons aconteceram da mesma maneira. Alguns tomaram tempo, mas não tempo demais. Novamente, foi por causa de todas as interrupções que o álbum demorou tanto para ser terminado.

Assim o álbum foi realmente feito sobre os sons que você tinha em mente, e daí saiu procurando os instrumentos perfeitos para crier aqueles sons.
Sim, eu sabia com quais sons eu procurava trabalhar. Não necessariamente para “Jump”, mas tinha uma idéia. Sempre que eu me sento para gravar uma música, eu sei que tipo de som eu estou precisando para ela.

 

Você sempre descreveu o som de suas guitarras como sendo o “brown sound”. Como você descreveria então o som de seus teclados? 

Acho que o mesmo “Brown sound”. Eu toco com a bateria, com todo o conjunto. É apenas um som “quente”, grande, magestoso. Este é o lance – com tanto que você toque bem , qual é a diferença? Eu apenas sei que todos, desde meu pai até o cara que lava meus carros adoraram (os teclados). Tem um apelo universal nisso. Se as pessoas não gostam, tudo bem também. Eu sabia o que eu queria naquele som. Donn e eu gostamos muito, nós não estávamos muito preocupados com o que as outras pessoas pensariam a respeito, eu acho.


Olhando objetivamente para este álbum, você acha que sua contribuição principal foi a introdução mais séria de sintetizadores ao som do Van Halen?

Sim, isto é bem claro. Isto é como dizer que eu estou tocando mais teclados agora do que guitarra! Eu estou curtindo tocar teclados. Isto não quer dizer que eu vá pular com ele sobre o palco, ou ficar com ele pendurado ao pescoço. Não, estou apenas brincando.

O sucesso do álbum te dá agora mais liberdade para tentar brincar um pouco mais com o som tradicional do Van Halen?
Me deu liberdade para tocar teclados confortavelmente. Agora eu não tenho preocupações sobre o que o resto dos caras pensam ou o que as pessoas irão pensar. Eu nunca me preocupei sobre o que qualquer um pensa sobre isso.

Você já pensou como vai tocar ao vivo no palco os sons como : “Jump” e “I’ll Wait”?

Não, eu apenas pensei em cortar o solo de “Jump”, porque ele é curto; ou tocá-lo no teclado mesmo, o que já fiz. Michael tocou um Minimoog ao vivo para fazer algumas partes das músicas que ao vivo eu não tenho mãos suficientes para fazê-lo. E “I’ll Wait” foi uma que realmente eles não queriam. Foi realmente mais do que “Jump”. Eles não queriam tocá-la nem a pau.

 

Você é o que dá a opinião final de uma gravação?
Eu não sou o único envolvido. Se o resto da banda não gosta de alguma coisa, eu tiro fora. Mas no que diz a minha felicidade no álbum, eu penso que é mais importante. Se eu gosto e os outros não, claro que minha reação pode ser: “Porque não gostaram?”. Mas como eu disse antes, eu não escrevo para satisfazer as pessoas. É bom, mas você tem que satisfazer a sí mesmo primeiro.                                                                      

 

Quando você olha para trás em 1984, foi uma espécie de teste para você? Qual foi o seu ponto alto em sua criatividade?
Foi um ponto alto e baixo emocionalmente pra mim. Desde que eu gravei em minha casa, eu tive um monte de críticas dos produtores e de David. De um modo, isto me fez trabalhar mais e melhor, e de outro, virou-me para não trabalhar com estas pessoas. Assim eu fiz os trabalhos à noite, depois das pessoas saírem, e no dia seguinte eu tocava o resultado pra eles ouvirem.

Havia algumas pessoas que, eu penso, gostavam de trabalhar desde o almoço até às 6 da tarde, parar para o jantar, ir dormir as 11 da noite, e acordar no almoço novamente. Você entende o que quero dizer?  Eu não sou este tipo de pessoa, e eles sabiam disso o tempo todo.

Assim eu acho que isto os assustou um pouco quando construí o estúdio. Porque olha, eu acordo as 5 da manhã, e já quero tocar. Se uma idéia aparece em minha mente, eu quero colocá-la pra funcionar. Você não deve deixar uma boa idéia para amanhã.