Entrevista - Eddie Van Halen - parte 2
"Mando ver até 140 volts e fico vendo as válvulas derreterem"
Que tipo de amplificadores está usando agora?
V.H. - Bem, em casa eu uso meu velho Marshall, minha criança preciosa. Ao vivo eu uso Marshalls novos.
Como você modifica seus amplificadores?
V.H. - Eu uso uma combinação de dois tipos diferentes de amplificadores. Ambos são Marshalls, mas um tipo recebe menos energia elétrica do que o outro, que recebe mais. O que tem menos força possui um grande capacitor ligado em conjunção com o fusível. Se alguma coisa acontecer, o fusível estoura primeiro. O capacitor chupa a energia, e a voltagem baixa em cerca de 10 volts. Isso realmente não modifica o som, mas de qualquer forma eu o uso com o volume aberto no máximo.
E o outro amplificador?
V.H. - Eu uso um Variac, que é uma espécie de transformador que vai de zero a 160 volts. Eu mando ver até 140 volts e fico vendo as válvulas derreterem.
Você perde muitos amplificadores nos seus shows?
V.H. - Sim, mas eu tenho muitos deles. Eu tenho de 12 a 15 Marshalls de 100 watts no palco, em grupos de quatro, ligados juntos. Se o primeiro grupo de amplificadores estourar, posso mudar para o seguinte. Eu tenho um grande equipamento: 80 alto-falantes de 12 polegadas que equivalem a 20 caixas acústicas Marshall. É assim ao vivo (foto 15).

foto 15 - Eddie ao vivo, chutando uma parede de caixas Marshall
"Gosto de sentir o som, sentir os pêlos do meu braço se mexendo".
Você toca muito alto no estúdio?
V.H. - Muito alto. Uso quatro Marshalls de 100 watt, que chegam a dar quase 600 watts com o Variac. Eu gosto de sentir o som, sentir os pêlos do meu braço se mexendo. É assim que eu gosto. Não gosto de usar fones de ouvido e estou surpreso por ainda não estar surdo. Costumávamos ser despedidos dos clubes onde tocávamos porque eu me recusava a abaixar o volume. Esse é o único jeito que eu consigo tirar um som - com o volume bem alto, mandando ver.

Eddie : "gosto de sentir os pêlos do meu braço se mexendo com o som".
Você usa transmissores sem fio na guitarra?
V.H. - Sim, eu sempre uso porque gosto de me mexer bastante.
Você está exercendo uma grande influência entre os guitarristas..
V.H. - É, acho que sim. (sorrí, embaraçado). Encontrei com o Frank Zappa outro dia, e a primeira coisa que ele me disse foi: "Obrigado por reinventar a guitarra elétrica", o que pra mim é um puta elogio, porque eu adoro o Zappa.
Existe algum outro guitarrista de quem você gosta?
V.H. - Allan Holdsworth (foto 16) é o primeiro da minha lista. O cara é fantástico, eu adoro ele. Ele é mesmo um artista.

foto 16 - Alan Holdsworth
Mas a sua grande influência mesmo foi Eric Clapton, certo?
V.H. - Pode crer. Ele foi o único que eu copiei. Eu não ligava muito pro Jimmy Page ou pro Hendrix, ou qualquer outro. Só fui ouvir Jeff Beck depois que o LP Blow by Blow foi lançado (risos).
"Sou capaz de vender minhas guitarras para pegar uma estrada".
O que você pensa quando escuta outros guitarristas usando seus truques?
V.H. - Acho uma merda. Não gosto que as pessoas façam as coisas exatamente como eu faço. Não gosto quando alguém pega alguma coisa minha e, em vez de inovar, criar em cima, fica na mesma, na cópia.
Como vocês se preparam para uma turnê?
V.H. - Agente ensaia no porão por duas semanas e faz um treinamento, um preparo físico. A gente toca sem P.A., só com os instrumentos. Depois agente aluga um lugar bem grande e passa o show inteirinho. Vou te contar, sou capaz de vender minhas guitarras para pegar uma estrada. Que vida!

Van Halen em estúdio
E a grana?
V.H. - Não me incomodo. Até agora, a única coisa que eu fiz com o dinheiro foi aposentar meu velho (pai) e coisas assim. Não comprei nada pra mim, exceto minhas guitarras, meu Jeep e uns dois carros. Sabe como é, já tenho tudo o que eu quero, que é a música e um carro pra rodar por aí. Mas principalmente a música: ela é tudo que realmente importa.
O sucesso e o estrelato modificaram você?
V.H. - Pra falar a verdade, eu não estou nessa de estrelato. Muita gente entra nessa, deixa o cabelo crescer, compra uma Les Paul e um Marshall e vira um astro do rock. Eu nem ao menos me considero um astro do rock and roll - apenas gosto de tocar guitarra. Eu fiz uma prova de inglês onde tive que escrever uma redação dizendo o que eu queria ser na vida. Eu disse que queria ser um guitarrista de rock profissional, e não um astro do rock. É uma imagem, um mito que a garotada me rotulou assim. Odeio fazer o papel de Rock Star, porque eu nem sei como um Rock Star deve atuar. Se eu agir normalmente, o pessoal vai dizer: "Ah, esse aí que é ele? Isso é tudo que ele é?". E se eu sair por aí dizendo pra todo mundo: "Ei, eu sou um astro do rock", todo mundo vai dizer que sou convencido, que eu estou numa tremenda ego-trip. Eu não me monstro muito, sou meio solitário. Não consigo ficar muito com as pessoas, elas não me entendem. Então eu prefiro passar a maior parte do tempo sozinho, tocando minha guitarra. É muito mais satisfatório. Não gosto de desperdiçar meu tempo agindo como um ator, porque eu não sou nada bom nisso.
Qual a maior desvantagem na vida de um astro do rock?
V.H. - A maior desvantagem em ser um astro do rock é que a sua vida privada acaba dançando, mas em compensação a sua vida sexual acaba aumentando (foto 17).

foto 17 - Vida sexual aumentada
O que você imagina que estará fazendo daqui há trinta anos?
V.H. - A mesma coisa que estou fazendo agora. É isso que eu quero. Não sei o que vai acontecer no futuro - talvez alguém da banda entre numa e deixe o grupo, ou qualquer coisa assim - mas eu gostaria que o Van Halen durasse para sempre. Se não for assim, sei que posso sempre conseguir alguma coisa tocando guitarra por aí, porquevive chovendo convites pra eu tocar nos discos dos outros. Mas o Van Halen é a minha família.
(Fonte: Revista Rock Especial - Editora Som Três)