Entrevista - David Lee Roth


Entrevista concedida à Folha Ilustrada, em 10 de Outubro de 2006.

MÁRVIO DOS ANJOS
da Folha de S.Paulo

      
                                                        David Lee Roth - no palco em 2006

Na era de ouro do Van Halen, que durou até meados de 1985, David Lee Roth colecionou adjetivos como extravagante, circense, showman, espalhafatoso. Aos 51 anos, a voz de clássicos como "Jump" e "Panama" é headliner do Live'n'Louder, evento metálico no sábado, dia 14, na Arena Skol Anhembi, e segue surpreendente.
"Faz bastante tempo que não vou ao Brasil, uns 20 anos", responde o cantor, em português fluente, à Folha. Na verdade, são 23 anos: foi em 1983 que a banda do exímio guitarrista Eddie van Halen esteve no país, em dois shows históricos.
E esse português, Dave? "Em Pasadena [Califórnia], onde estudei, tinha uma comunidade de portugueses, e eu tinha contato com eles", diz ele, natural de Bloomington, Indiana.
No Exército americano, mais português. "Dependendo do lugar onde você queria servir, você podia escolher entre francês, espanhol e português. Como gostava da América Latina, escolhi português", afirma ele, que não deverá ter problemas para falar com os fãs nacionais de hard rock. A não ser por certas preferências musicais.
"Sou fã de Carlinhos Brown. Adoro a batida, o groove, é muito diferente", afirma Dave.
Desde sua saída do Van Halen, em 1985, Dave não pôde reclamar de falta do que fazer. Carreira solo oscilante, aparições em séries de TV, anfitrião em talk-shows de rádio e, recentemente, um bico no pronto-socorro de Nova York.
"Na minha família, um dia você acaba usando um uniforme de médico, e eu sempre tive o sonho de pilotar ambulâncias", afirma Dave, sem um pingo de bom-mocismo voluntário. Para completar, o filho de oftalmologista cita Belchior no original: "Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais". Sem errar uma sílaba.
"Trabalhava no South Bronx, no East Brooklyn, todos esses lugares do hip hop. Eu ia lá, às vezes buscava uma velhinha de 90 anos para sua visita periódica ao hospital, e ninguém me reconhecia. Era fantástico."
Na música, atualmente, Dave promove nos Estados Unidos "Strummin' with the Devil", um tributo ao Van Halen em versões bluegrass --vertente do country dos EUA. Mas tranqüiliza os fãs brasileiros: "Vou tocar as versões originais".

Artes marciais



E o que esperar de sua performance? Aos 51 anos, dar saltos acrobáticos e cambalhotas fica um pouco mais difícil? A resposta de Dave vem prenhe de seu conhecimento de artes marciais. É sério.
"Você já viu um lutador de kendô [mistura de luta com esgrima, que usa espadas de bambu]? Os mais jovens treinam para dar 110 golpes por minuto. Um mestre, porém, parece uma árvore, já é idoso. Como é que ele sempre vence?" Ele mesmo responde. "Não desperdiço movimento, mas ainda faço o suficiente para fazer você se sentir jovem, magro e bonito. Minha música lembra a garota que você beijou, o carro que roubou, essas coisas."
O que torna David Lee Roth a pessoa mais apropriada para dar um conselho a Axl Rose, que anuncia a volta recauchutada do Guns'n'Roses para este ano, sem membros originais como Slash e Duff McKagan.
"Meu conselho é: verdade nos anúncios. Não dá para cobrar o mesmo preço de ingresso do Guns original."
É com esse mesmo desdém que fala de revivals descarados do hard rock, como o Darkness.
"É fácil ser bobo. Difícil é imprimir uma marca pessoal num estilo musical, qualquer que seja ele", declara. Como duvidar?