Van Halen em entrevista no Brasil em 1983

Postado em 17.09.2012 - créditos: R7.com
 
(entrevista original completa, aqui)

   
     
                         

Van Halen - abrindo a estrada para shows internacionais no Brasil

Numa época em que ao menos dois grupos de rock ou metal se apresentam a cada final de semana no país, é difícil colocar em perspectiva e dar a real dimensão e importância dessas duas séries de apresentações no Brasil.
Mas vamos tentar reproduzindo os fatos da época.
A agenda do Van Halen foi:
21/22/23 de Janeiro: São Paulo – Ginásio do Ibirapuera;
25/26/27 de Janeiro: Rio de Janeiro – Ginásio do Maracanãzinho;
28 e 29 de Janeiro e 1º de Fevereiro: Porto Alegre – Ginásio Gigantinho;

O set list básico dos shows foi:
01) Romeo Delight
02) Unchained
03) Solo de Bateria
04) The Full Bug
05) Runnin’ With The Devil
06) Jamie’s Cryin’
07) Little Guitars
08) Solo de Baixo
09) Beer Drinkers and Hell Raisers
10) Little Dreamer
11) Mean Streets
12) Dance The Night Away
13) Somebody Get Me A Doctor
14) Improviso de Alex & Eddie Van Halen
15) I’m So Glad
16) Somebody Get Me A Doctor
17) Cathedral
18) Secrets
19) Everybody Wants Some
20) Ice Cream Man
21) Heartbreak Hotel
22) Intruder
23) Pretty Woman
24) Eruption
25) Ain’t Talkin”bout love

E vale a reprodução de parte da coletiva de imprensa que o grupo deu e que foi publicada no jornal “Rock´n´Roll News” que mostra a ingenuidade da imprensa em relação ao rock.

     
Jornal: Você define o som do Van Halen como Heavy Metal?

David Lee Roth: Eu não acho que o Van Halen toca música Heavy Metal. Heavy Metal é uma coisa muito específica. Se você fizer uma coisa muito específica será como se você trabalhasse num emprego comum oito horas por dia. Não é assim que a gente faz nosso trabalho.

Jornal: Então como é que você define o som que vocês fazem?
DLR: É uma mistura de vários estilos de música. Somos quatro personalidades diferentes, mas a raiz é a mesma: rock’n'roll. Realmente, somos quatro personalidades diferentes. A música que eu gosto, esses caras não aguentam… E o que eles gostam, eu não aguento…

Jornal: De que tipo de música você gosta?
DLR: Bem, a música que eu gosto e ouço não tem nada a ver com rock’n'roll. Eu gosto de música clássica, Billie Holiday, Al Johnson.

A imprensa pede para que os quatro se apresentem. A tradutora diz o nome de cada um deles e eles executam a tradicional apresentação dos três (quatro) patetas… (aplausos)

DLR: As pessoas sempre pensam que o Van Halen tem como formação só rock’n'roll, mas isso seria a mesma coisa que alguém casar sempre com a sua própria família o tempo todo. Você com o tempo provavelmente teria filhos retardados… E isso é o que ocorre com muita frequência com a música rock, disco, ou qualquer outra forma de música. Eu acho que é melhor roubar um pouquinho de outras influências, e vocês estão olhando para os quatro maiores ladrões de música de todos os tempos… (risos). Van Halen sempre carrega a influência de outros países. O Van Halen não é só música, é um estilo de viver, o que queremos é nos divertir, viajar e tentar manter saúde mental. Rock’n'roll é muito superior à apenas a música, porque inclui muito mais, desde a hora em que você se deita; ou talvez você nem se deite, o que geralmente acontece conosco…

Jornal: O que você sabe a respeito da música brasileira?
DLR: Tudo o que eu sei sobre música brasileira é que eu comprei muitas fitas(cassete) virgens e trouxe um (aparelho) estéreo muito bom… (risos)

Jornal: Você não conhece nenhum autor?
DLR: É quase impossível descobrir qualquer coisa sobre a América do Sul, a não ser que a América do Sul é uma grande revolução. E isso é a pura verdade. Os jornais, a imprensa, as rádios comentam. Os Estados Unidos estão muito intimidados com a América do Sul, e isso é possível, porque afinal, o Brasil é maior que os Estados Unidos (risos). Merda, vocês sabem como são os americanos…

Jornal: Como você explica o sucesso do Van Halen?
Eddie Van Halen: O sucesso do Van Halen? Como? Nós estamos morrendo de fome…
DLR: O sucesso do Van Halen é baseado em não tentar alcançar o pote de ouro no fim do arco-íris, mas sim nos divertir enquanto percorremos o arco-íris. É, a gente vai ganhar algum dinheiro nesta turnê, mas cada centavo vai para a produção deste show. Nós queremos é tocar, e enquanto vocês estiverem nos assistindo aqui no Brasil, e quando outras bandas vierem visitar vocês, é exatamente isso que vai acontecer. Nós queremos tocar, e vocês verão isso. Vocês, meninas, provavelmente verão muito mais…

Jornal: Você fez sua própria guitarra, certo? Por quê? Você acha que com ela você pode tirar algum som diferente?
EVH: Ninguém pode dizer que o que faz diferença é a madeira em que a gente toca.
DLR: Todo mundo acha que tiramos o som através do nosso equipamento. Muita gente entra no estúdio e toca o estúdio ao invés de tocar o instrumento.
EVH: Minha guitarra custou duzentos dólares para ser montada, ao passo que eu gastaria 1.200 dólares para comprar uma pronta.
DLR: Na realidade, o que a gente põe no palco é muita luz e muito som. Mas o equipamento é muito barato. O que vocês ouvem como amplificador é o mesmo equipamento que vocês ouvem aqui no bar do Hotel. Todo equipamento é muito barato. Mas você tem que saber como usá-lo. Todo mundo tem um instrumento, é só saber usá-lo… (levanta e rebola).

Jornal: É verdade que você pratica Karatê desde os 14 anos?
DLR: Sim, minha vida pessoal é guiada pelas coisas físicas. Essa é a estética, a combinação mágica. Eu não sou bom em nada especificamente.
Alex Van Halen: Não? Em uma coisa você é…
DLR: Mas eu pratico todas.

Jornal: Com as músicas “Pretty Woman”, “Dancin’ In The Street” e “You Really Got Me” vocês estão expressando um gosto pessoal ou estão querendo apenas reviver um sucesso?
EVH: Eu queria fazer Dancin’ In The Streets, e o David queria fazer Pretty Woman.
DLR: O conceito geral que define o que você está perguntando é muito simples, quando se trata de Van Halen. Não nos importa o que as pessoas pensam. Nós apenas queremos tocar Rock. Não nos importa quem compôs, o que interessa é que é bom Rock. Não faz diferença, nós só queremos nos divertir e tocar nossa música, e todos vocês estão convidados a ouvi-la.

Jornal: Seria possível o retorno do Van Halen, no futuro?
DLR: Nós vamos voltar ao Brasil again, again and again…

Jornal: Como você define o rock’n'roll?
DLR: Rock’n'roll é uma atitude, é uma coisa que você não pode aprender. Não posso lhes dizer como ser roqueiro, mas posso ver pelas suas caras que vocês não são roqueiros…

Jornal: Você fez uma música com Michael Jackson, certo? O que você achou dessa experiência? Por quê você fez isso?
EVH: Eu gosto de todo o tipo de música, e acho que essa é uma prova disso.

Jornal: Como o pai de vocês se sente, tendo dado a vocês uma influência clássica e de repente ver vocês fazendo uma música cheia de gritos, berros, uma música irritante?
EVH: O que você acha que as pessoas pensavam da música clássica enquanto a mesma era composta? Daqui a 300 anos, a música Rock será considerada clássica.
DLR: Eu gostaria de responder a essa pergunta. Vocês já foram a algum culto religioso? Já viram um ritual vodu? Já foram ao circo? Tudo cheio de gritos, berros, pessoas ficando doidas, bebendo demais? Assim como em seus jogos de futebol? E eu acho que a gente não vai renunciar nem ao futebol nem à música. E se vocês querem falar sério, a terapia é exatamente essa. A gente precisa disso. Algumas pessoas precisam procurar a religião, outras precisam do esporte e as demais vêm aos concertos do Van Halen…

Jornal: Ouvi falar que no palco você é muito atlético, acrobático, dando saltos, etc. O que você faz para ficar em forma?
DLR: A idéia é interpretar a música como ela soa. A verdade é que no rock você pode usar a sua própria criatividade e a atitude que você expõe é que se torna rock’n'roll, e nos últimos cinco anos eu fiz ballet, sapateado, música disco, há dez anos que eu pratico Karatê, eu esquio, jogo tênis e todas essas coisas eu levo para o palco. E dessa vez, para vocês, no palco, eu vou jogar tênis durante a primeira música, desse jeito… (Ele levanta e faz os gestos de quem está jogando tênis em câmera lenta, enquanto o Alex reproduz com a boca o barulho da bolinha batendo na raquete de tênis). E essa demonstração vai lhes custar oito dólares.

Jornal: Por que você usa quatro bumbos, enquanto que a maioria dos grupos usam um ou no máximo dois?
AVH: A música que nós tocamos é basicamente simples… Ritmos complicados não podem ser tocados apenas com dois bumbos. Tem também uma diferente modalidade de textura e de vibração… (risos).

Jornal: Assisti a um concerto do Van Halen na América em 1980 e você dizia no palco “Abaixo (ao aiatolá iraniano) Khomeine” e coisas assim. Existe algum senso político em seu trabalho?
DLR: Não, não, não, o que vocês viram em 1980 foi que uma pessoa atirou no palco um cartaz e eu o abri, e ele continha esses dizeres. Vocês nunca vão me ouvir falar sobre religião, política ou raça. Porque vocês sabem que depois que um grupo vende milhões de discos, ele se torna internacionalmente reconhecido e eu acho que seria falta de senso se envolver com tais coisas.

Jornal: A imagem de vocês é vendida comercialmente como um grupo de Heavy Metal, e agora vocês caem em contradição, dizendo que não. Como você explica isso?
DLR: Esta noite eu tive um pesadelo horrível. Eu sonhei que saí da cama e estava com os cabelos todos despenteados, mais ou menos como agora, e no sonho eu saí do quarto e todo mundo olhou pro meu cabelo e disse: “Você não pode sair desse jeito, você está parecendo com o Robert Plant, vão achar que você é heavy metal”. Corri de volta para o quarto e cortei todo o meu cabelo e saí de novo, e eles me disseram: “Isso não, você está parecendo Sex Pistols!”, e eu disse: “OK”. Então o sonho ficou ainda pior. Voltei para o quarto e fiz uma maquiagem para cobrir o rosto e eles disseram: “Não, isso é Kiss!”. Eu acordei, e digo que me conformo em parecer heavy metal…

Afinal, que tipo de música vocês fazem?
DLR: Big Rock é um termo que nós inventamos. E é alguma coisa que soa grande. Nós tentamos inventar a nossa própria categoria, porque assim, quando tudo terminar, quando não houver mais a música do Van Halen, eu tenho certeza de que nos colocarão num lugar especial.

Jornal: Acho que você é considerado um grande guitarrista. Você se sente responsável em querer melhorar a sua maneira de tocar?
EVH: (pensativo) Não! (risos). A razão pela qual eu toco desse jeito é que nunca me ensinaram nada. Acho que a melhor maneira de se aprender as coisas é não ser ensinado.

Jornal: Qual é o seu guitarrista preferido?
EVH: Edward Van Halen (risadas).

Jornal: E depois?
EVH: Alex Van Halen, e depois David Lee Roth e Michael Anthony…

Jornal: O que você acha de Eric Clapton?
EVH: Excelente.

Jornal: E de Jimmy Page?
EVH: Excelente.

Jornal: Todos os baixistas em geral são quietos, como Bill Wyman por exemplo. Você também é assim?
Michael Anthony: É verdade que aqui, atrás do palco, eu estou bem quieto, mas quando vocês me virem aqui no Brasil, não fiquem perto demais de mim… (risos)